A Mulher do Fim do Mundo. Elza Soares

Quando se fala de música popular brasileira, não tem como não citar a voz única, rouca de Elza Soares. Suas apresentações tomadas pela energia a tornaram conhecida no mundo todo, chamando atenção de nomes consagrados internacionalmente.

Marcada por altos e baixos na sua vida e carreira musical, Elza tomou pra si o sonho de viver de música como objetivo de vida e assim o fez.

Nascida de uma família pobre na favela carioca de Moça Bonita, hoje chamada de Vila Vintém, Elza ajudava sua mãe nos afazeres domésticos até, aos 11 anos, ser obrigada a casar com um amigo de seu pai. Ainda criança sofreu violência doméstica e, aos 12 anos, deu luz ao seu primeiro filho.

Trabalhou como encaixotadora, conferente em uma fábrica de sabão enquanto seu marido doente de tuberculose se recuperava. Aos 15, seu segundo filho morre de fome e aos 21, ela fica viúva.

Apesar dos revezes que a vida lhe trouxe, Elza Soares acreditava no sonho de ser cantora e via na música a solução para sair da pobreza.

Planeta fome

Ao ver o filho morrendo de fome, ela se apresentou escondida no programa de calouros apresentado por Ary Barroso na Rádio Tupi que, vendo aquela menina franzina, usando um vestido maior que ela, preso por alfinetes de fraldas, perguntou de que planeta ela vinha. Elza respondeu a ele: “Do mesmo planeta que o senhor, Seu Ary. Do planeta fome.”

Mesmo sua família sendo contra sua carreira artística, Elza insistiu até se tornar conhecida do grande público com sua voz diferente, poderosa e ao mesmo tempo, mansa.

Teve um relacionamento conturbado com o jogador de futebol Garrincha que chamou a atenção da imprensa que a acusava de ter acabado com o primeiro casamento do jogador.

Elza perdeu dois maridos, quatro filhos e teve uma filha sequestrada. Esses fatos sempre a abalaram muito: “A única coisa do passado que ainda me machuca é a perda dos meus quatro filhos. O resto tiro de letra. Mas, filho é uma ferida aberta que não cicatriza. Estará sempre presente.”

A mulher do fim do mundo

Seu timbre diferenciado, sua forma de cantar que remetia ao jazz de Luis Armstrong e Ella Fitzgerald, mas ainda assim autêntica, nova e cheia de brasilidade, a levou a ser reconhecida pelo público internacional.

Em 2000, foi reconhecida pela BBC como a “Melhor cantora do milênio” o que alçou ainda mais sua fama internacional, levando a uma turnê pelos Estados Unidos e Europa.

Com 34 álbuns gravados, 3 Grammys Latino e 2 homenagens por escolas de samba cariocas e título de Honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Elza Soares não deixa de se reinventar, revisitando sua carreira, inovando seu som e indo de encontro com grandes músicos da atualidade.

Com 89 anos, ela é uma das cantoras mais importantes do Brasil e como uma verdadeira sobrevivente, mostrou ao mundo que cantar é libertação.

Elza soube transformar a adversidade em espetáculo, encantando multidões por onde passava, cantando sobre sua dor, sobre ser mulher, negra e brasileira.

Quer saber mais sobre Elza Soares?

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📙Livro Elza por Zeca Camargo

Nas palavras de Zeca: “Esta é a versão final, definitiva, contada por ela. Elaborada por mim, mas a matéria-prima é a memória da Elza – e isso é muito, muito fascinante. É como um mergulho nessa vida maravilhosa e nessa trajetória incrível.” Com coordenação de conteúdo de Juliano Almeida e Pedro Loureiro, o livro foi construído a partir de muita pesquisa do autor e ao longo de dezenas e dezenas de encontros entre Elza e Zeca no apartamento da autora, no Rio de Janeiro.

💻 Entrevista na Vice: https://www.vice.com/pt_br/article/gykqb4/elza-soares-deus-mulher-entrevista

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